segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Daremos uma festa para um palhaço que não foi convidado


O circo acabou. As personagens não buscam o divertimento, o riso ou a alegria. Elas buscam quase desesperadamente, através do consumo, o conforto. Não há motivos para rir. O riso é apenas um espasmo. É preciso acreditar em uma nova forma de salvação. O palhaço perdeu seu emprego. Nós estamos perdendo os nossos. É obrigação do palhaço receber nossa arrogância. O palhaço não é engraçado. Cabe ao palhaço engolir nossa fúria. Daremos uma festa para um palhaço que não foi convidado. Já não nos imrpota a felicidade, importa apenas parecermos felizes. Dividimos o mesmo espaço. Estamos no mesmo barco, que sabidamente afunda. Só nos resta uma boa poltrona para que possamos, de forma confortável, aguardar que as águas nos libertem. O palhaço enfia a cabeça no balde e a mantém submersa por cinco minutos. A água não mais purifica, apenas abafa o mundo. Às personagens resta apenas lembranças. Vagas, imprecisas, que não se compartilham. Dividem o mesmo espaço, mas não o mesmo tempo.


MUTARELLI, Lourenço. O teatro das sombras. Devir Livraria.

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