sexta-feira, 29 de maio de 2009

A garota no trem

Ela parecia tão comum. Mas sua expressão, seus gestos, me chamaram a atenção. Minha tristeza é jamais saber o que se passava na sua cabeça naquele instante. Parecia tão longe dali. Parecia tão deslocada, anacrônica até. Não queria que ela se afastasse de mim. Como não foi possível e como dali eu não ia conseguir obter pensamento algum, resolvi registrá-la. Ei-la. O bom é que ela pode ser do jeito que eu quiser. Ela pode ser uma garota legal. Pode gostar de mim. Ela pode sair comigo. Levo-a no bolso. Ela não vai se afastar de mim. Não vai se assustar com esse meu jeito. Essa é a minha garota. Agora que eu já a tenho, espero não encontrá-la mais no trem. A mim interessava apenas os seus pensamentos e talvez a sua personalidade. Agora que tenho a sua imagem e ela pode ser do jeito que eu bem entender, desço na próxima estação e não se fala mais nisso.

Mediocridade, passei no vestibular. Mas a faculdade, ela é particular.

O que se chama de consciência limpa? Ir à igreja aos domingos, passear no shopping com o (a)namorado(a)? Lavar a louça pra sua mãe? Devem resumir mesmo a vida das pessoas medíocres. Vão se casar, ter filhos e só. E a consciência limpa. Um dia está bem, outro dia está mal. E assim a gente segue no deixa a vida me levar. Mas não comenta nada, porque eu não gosto de pagode. E assim, segue-se enganando-se, como diz uma outra música: A vida não é tão boa, mas eu tenho meus paliativos (carros, bolsas, remédios), segue-se na esperteza, no jeitinho, na brasilidade. E assim, se segue a vidinha inútil, com uma certeza medíocre de que está fazendo tudo certo. Mesmo quando o travesseiro te avisa que não é bem assim. Erro daqui, erro de lá, mas que importam as pessoas? Que importa sua conduta, seu sentimento? Que importa a ética? Isso não existe, não é mesmo? Importa a audiência, e a promoção social: olha pra mim, eu sou legal. O que importa é o expediente, é o fechamento do jornal. E viva a mediocridade! Porque o reconhecimento é a sobremesa.